Nesta sexta-feira, 22 de novembro de 2024, Rachel Rosa Jackson, Diretora de Pesquisa Climática e Política da Corporate Accountability, divulgou a seguinte declaração sobre o estado das negociações, à medida que nos aproximamos do fim da COP29 no Azerbaijão:
Enquanto a COP29 se aproxima de uma possível prorrogação em Baku, é crucial que todos reconheçamos a realidade: essa é uma tentativa deliberada de países e dos Grandes Poluidores para protelar a ação climática.
Tivemos décadas para tomar as medidas necessárias para evitar a crise climática, mantendo os combustíveis fósseis no solo e expandindo soluções reais, mas os sistemas econômicos e políticos que priorizam o lucro corporativo e a ganância em detrimento da vida desperdiçaram cada segundo. Nos últimos anos, surgiram centenas de oportunidades para manter a meta de 1,5°C viva e evitar o perigo planetário. Todas essas oportunidades foram completamente desperdiçadas, a mando dos Grandes Poluidores e dos maiores governos poluidores do mundo, como os Estados Unidos, o Reino Unido, a União Europeia e outros, que não descansarão até que tenham extraído da terra cada gota de petróleo da qual possam lucrar.
Esse tempo perdido resultou em milhões de vidas perdidas, bilhões de pessoas refugiadas climáticas, trilhões de dólares em dívidas climáticas anuais e danos imensuráveis e, em muitos casos, irreversíveis às comunidades do Sul Global e aos Povos Indígenas.
Desde o início, as negociações climáticas da ONU em Baku, que se aproximam do fim, parecem determinadas a perpetuar o legado de perigosas distrações. Desde o primeiro dia, a suposta “COP das finanças” tem se revelado a “COP das falsas soluções”. O primeiro dia começou com um desvio extraordinário do protocolo, quando regras perigosas e repletas de brechas para os mercados de carbono foram aprovadas antes mesmo que qualquer negociação para fortalecê-las pudesse ocorrer formalmente, apesar dos protestos da sociedade civil e de vários governos do Sul Global, e das crescentes evidências de que esses esquemas não reduzem as emissões. Isso significa que as negociações começaram entregando aos Grandes Poluidores um “passe livre” para continuar poluindo, além de milhões de licenças garantidas que lhes permitirão continuar alimentando a crise climática. Então, quando as negociações começaram oficialmente, países como os Estados Unidos e o Reino Unido abandonaram a diplomacia e passaram a atacar todos que tentaram avançar com medidas concretas para garantir o financiamento climático devido, agora há muito atrasado. Em vez disso, oferecem trocas de dívidas, empréstimos do setor privado e somas irrisórias que em nada contribuirão para reformar os sistemas que impulsionam a crise climática ou mitigar os danos já causados.
Agora, esses manipuladores do tempo sabem que se mantiverem todos ocupados por tempo suficiente e continuarem a criar obstáculos em diversas salas de negociação simultaneamente, os negociadores do Sul Global, com recursos limitados, não conseguirão acompanhar. Alguns países do Sul Global têm apenas um pequeno número de delegados para cobrir todos os tópicos nestas negociações, sendo superados em número pelos negociadores dos países do Norte Global, que podem ocupar várias salas ao mesmo tempo. Esses mesmos delegados do Norte Global sabem que, se tomarem os microfones e usarem o poder de suas máquinas globais de relações públicas para declarar sua intenção de não permitir que as negociações terminem até que o resultado seja “forte” o suficiente, enquanto apontam o dedo para os outros, sua retórica os posicionará não como os responsáveis pela inação, mas como os “defensores do clima”. Tudo isso enquanto mais de 1.770 lobistas de combustíveis fósseis rastejam pelos corredores, bloqueando as tentativas de impedir que os Grandes Poluidores ditem as regras da ação climática.
Estes agressores climáticos não recuaram e é por isso que a COP29 não tem mais tempo a perder. Em decorrência dessa ultramaratona de desperdício de tempo, a vida como a conhecemos está em risco, globalmente. Não apenas para milhões, mas para bilhões de pessoas. Não apenas no Sul Global, mas das Filipinas à Índia, à Califórnia, à Bolívia, à Itália e a Moçambique..
O mundo precisa saber que o tempo para agir em relação ao clima está se esgotando em Baku. Antes que seja tarde demais, precisamos que o Norte Global finalmente quite a dívida climática, há muito devida, com financiamento público para as comunidades, no valor de pelo menos US$ 5 trilhões por ano. Antes que seja tarde demais, precisamos rejeitar de uma vez por todas falsas soluções como os mercados de carbono, a captura e o armazenamento de carbono e a geoengenharia. Essas falsas soluções nunca levaram à redução das emissões e devem ser abandonadas em favor de soluções lideradas pelas pessoas, comprovadas e eficazes em termos de custo, que atualmente estão sendo ignoradas. Antes que seja tarde demais, precisamos eliminar de forma rápida, justa e definitiva os combustíveis fósseis. Antes que o tempo acabe, precisamos eliminar as cobras corporativas que alimentaram essa crise e que financiam as máquinas de guerra em todo o mundo.
Até agora, a COP29 serviu apenas aos Grandes Poluidores e está prestes a consolidar décadas de dependência de combustíveis fósseis. Antes que seja tarde demais, precisamos acabar com a fraude e a “lavagem verde” e implementar a ação real que o mundo exige.
Leia este comunicado de imprensa em inglês e espanhol.